Para ficar cota e nada melhor que envelhecer por aqui (Maragogi e Moçambique, respectivamente):
Hoje será algo deste género:
Mas com uma criança e adulta mais pequenas, numa praia a sermos simplesmente crianças.
Sou mandada parar por uma patrulha (algo que tanto gosto). Pedem-me os documentos (onde demorei imenso só para conseguir tirar a carta de condução da carteira) e perguntam se posso abrir a mala (até parece que se disser não adianta). Lá saio do carro e dirigi-me à mala dizendo: "só tenho uma cruzeta, guarda-sol e guarda-chuva", ao que me respondem:
"- Menina, isso podem ser consideradas armas." Ah, armas???, tão doidos -pensei (tinha mesmo a resposta na ponta da lingua, mas fiquei caladinha...armas??)
Devolvem-me os documentos, mencionam que posso seguir e diz o agente que ficou a obervar o tempo todo, para o colega:
" - Eu bem disse que meninas bonitas têm tudo direitinho, não é Menina?" (fico a olhar ainda mais parva do que com a resposta das armas)
"- Até conduz devagar e tudo, correcto?"
"- Claro!" - minto eu, e arranco antes que ouça mais baboseiras :)
( e eu pergunto, se já sabiam que não tinha nada a ser considerado, porque me mandaram parar?gozo?)
Está decidido... daqui a menos de um mês estarei aqui, após milhares de passos dados.
Neste momento, sinto-me corajosa e optimista de sucesso neste esforço fisico e psicológico.
E agora, há que condensar o minimo indispensavel, em curta bagagem com o menor peso possivel (gosto deste despudor em libertar-mo-nos do que não faz falta).
...destes escorregas metálicos da minha infância, que expostos à luz solar queimavam o rabiosque há medida que o descia. O mais fascinante era a sua altura, sempre altos, com degraus arredondados afastados o suficiente para ter que esticar bem a pernita pequena para alcançar o proximo e chegando ao último, vislumbrava-se a paisagem e a distância ao chão e em fracção de um segundo era decidir: vou sentada ou deitada de frente?
Recordo que uma praia que frequentava com a familia, tinha um pequeno parque infantil, com 2 escorregas metálicos, claro, um pequeno e outro grande. Não me recordo sequer de andar no pequeno, era baixo demais para a minha tenra idade de 4anitos. E sempre que vinhamos embora, la ia eu para a fila, ansiosa por subir tantos degraus e descer, descer. Quando descobri que molhada a velocidade na descida era maior foi um ex-libris! Tentava vir sempre molhada, nem que fosse só o rabiosque, para descer a alta velocidade.
E quem se lembra dos sobe-e-desce ou bacalhaus? Aquelas tábuas de madeira coloridas com rachas que revelavam a idade do divertimento e o seu uso contínuo?
Claro que haviam baloiços, com correntes de metal decompostas pela erosao maritima, que pintalgavam as mãos de laranja ferrugem como se fosse uma prova do quanto tinhamos voado (sim, porque nessa altura estes baloiços eram grandes e conseguiamos subir imenso). Hoje, o plástico camufla esta adrenalina: são baixos, pouco inclinados, curtos e permitem velocidades mais lentas que um caracol. Como se não bastasse, o chão de cimento ou areia, que marcou muito os meus joelhos sempre que não controlava a saida rápida dos divertimentos, é também de um material todo aborrachado, fofo e amortecedor.
Vozes afirmam que os actuais são mais seguros, e? Até podem ser, mas na minha humilde opinião, segurança a mais "paneleiriza" a criança. Criam-lhes receios infundados e a ideia ridicula que estão sempre protegidos de acontecimentos maus. Depois queixam-se que as crianças de hoje só querem jogos de video...pudera, devem viver mais aventuras nesse mundo fantasioso que na vida real.
Apesar de muitos psicologos e pais estarem a tentar criar uma vida infantil em redomas de vidro, estas não existem e num futuro próximo este vidro, partir-se-à e o que vai a criança-já-adulto fazer?
Tenho medo que, um dia, um destes seres cautelosos me prenda, quando me virem a ensinar à cria como se salta de um baloiço em pleno voo, como se anda em pé no baloiço sem cair, como se escorrega de frente...
Surgem situações, de modo tão simples e usual, que abalam a nossa frágil estrutura humana como se tratasse de uma fusão entre um tsunami e terramoto. Desesperamos, preocupamo-nos antecipadamente e diminuimos a vitalidade, alegria, esperança, fé e o humor.
E interiormente tudo me diz que é ridiculo até porque a unica solução ainda não encontrada é para a morte. Só que como tudo na vida, há um mas...e neste mas residem temores e angústias porque em quase 7 anos, já é altura de também termos direito a ter janelas repletas de felicidade e desejos realizados, afinal também somos humanos e filhos de Deus. Estupidamente ou não, ainda consigo acreditar que essas janelas brevemente se abrirão e tal como um comum ser humano conseguiremos ter tranquilidade, alegria, dinheiro e sermos pais.
Há força de vontade e enquanto ela persistir há esperança!