...destes escorregas metálicos da minha infância, que expostos à luz solar queimavam o rabiosque há medida que o descia. O mais fascinante era a sua altura, sempre altos, com degraus arredondados afastados o suficiente para ter que esticar bem a pernita pequena para alcançar o proximo e chegando ao último, vislumbrava-se a paisagem e a distância ao chão e em fracção de um segundo era decidir: vou sentada ou deitada de frente?
Recordo que uma praia que frequentava com a familia, tinha um pequeno parque infantil, com 2 escorregas metálicos, claro, um pequeno e outro grande. Não me recordo sequer de andar no pequeno, era baixo demais para a minha tenra idade de 4anitos. E sempre que vinhamos embora, la ia eu para a fila, ansiosa por subir tantos degraus e descer, descer. Quando descobri que molhada a velocidade na descida era maior foi um ex-libris! Tentava vir sempre molhada, nem que fosse só o rabiosque, para descer a alta velocidade.
E quem se lembra dos sobe-e-desce ou bacalhaus? Aquelas tábuas de madeira coloridas com rachas que revelavam a idade do divertimento e o seu uso contínuo?
Claro que haviam baloiços, com correntes de metal decompostas pela erosao maritima, que pintalgavam as mãos de laranja ferrugem como se fosse uma prova do quanto tinhamos voado (sim, porque nessa altura estes baloiços eram grandes e conseguiamos subir imenso). Hoje, o plástico camufla esta adrenalina: são baixos, pouco inclinados, curtos e permitem velocidades mais lentas que um caracol. Como se não bastasse, o chão de cimento ou areia, que marcou muito os meus joelhos sempre que não controlava a saida rápida dos divertimentos, é também de um material todo aborrachado, fofo e amortecedor.
Vozes afirmam que os actuais são mais seguros, e? Até podem ser, mas na minha humilde opinião, segurança a mais "paneleiriza" a criança. Criam-lhes receios infundados e a ideia ridicula que estão sempre protegidos de acontecimentos maus. Depois queixam-se que as crianças de hoje só querem jogos de video...pudera, devem viver mais aventuras nesse mundo fantasioso que na vida real.
Apesar de muitos psicologos e pais estarem a tentar criar uma vida infantil em redomas de vidro, estas não existem e num futuro próximo este vidro, partir-se-à e o que vai a criança-já-adulto fazer?
Tenho medo que, um dia, um destes seres cautelosos me prenda, quando me virem a ensinar à cria como se salta de um baloiço em pleno voo, como se anda em pé no baloiço sem cair, como se escorrega de frente...